quarta-feira, dezembro 05, 2007

I AM ERROR

Gostos das repartições públicas portuguesas. Gosto. É daquelas coisas inexplicáveis. É como gostar de actos masoquistas ou, pior, gostar do Sporting. Uma pessoa gosta e pronto, não é propriamente uma escolha
Depois de ter gasto quinze euros por umas fotocópias (quando as vi fiquei desiludido, pensei que fossem bordadas a ouro ou algo assim, mas afinal era apenas papel e tinta, mas deve ser uma tinta especial, para custar esse preço) e quando já estava pronto para ir embora, olho para o recibo, o único meio de levantar um papel daqui a vinte dias, que o caro funcionário me entrega e reparo que o meu nome não estava correcto.
- Desculpe, mas isto não é o meu nome.
- Não? Tem a certeza?
Cá está. Ele perguntou isto porque eu podia estar a brincar. Ou podia estar errado. Se calhar até era o meu nome e eu é que não sabia. Quem sou eu para contrariar o estado português? Pediu o meu contribuinte e lá viu que algo estava errado. Não sei o quê. Não sei como. Não sei porquê. Só sei que a repartição toda parou para ver o meu caso. O funcionário ficou alguns minutos a olhar para o ecrã, com um tique no olho, a tremer a perna, espantado com o caso. Ele e outro funcionário foram-se embora, subindo as escadas para outra divisão, e lá ficaram mais de dez minutos. E eu sentado à espera, debaixo dos olhares raivosos dos restantes utentes daquele local. Basicamente eu acho que provoquei um glitch na Matrix. O funcionário estava com ar de quem ia desatar a gritar “ERROR! ERROR!” e a chocar contra as paredes até a cabeça ficar pendurada por uns fios, tipo Robot decapitado.
Lá voltou, com um ar embaraçado, com o papel com o nome certo, mas, ainda assim, ele não parecia totalmente convencido. Eu por momentos pensei que viesse alguém lá de dentro dizer que eu, basicamente, não existia. Não ficaria surpreendido.

2 comentários:

Anónimo disse...

Muito Bom! Certo dia, tive a oportunidade assistir, em directo e a cores, a uma cena parecida quando fui com a minha mãe à Segurança Social. A pobre senhora tentou, por todos os meios, convencer a alma que se encontrava do outro lado do balcão de que o nome que constava no seu cartão estava mal escrito, mas não conseguiu mais do que um "se o sistema diz que o seu nome é esse é porque é!" como resposta. Surreal...

Sr. Bastonário disse...

Eu até levava a minha mãe (e já agora a minha filha) à segurança social, é didáctico. Uma pessoa ri, chora, reclama... E às vezes, muito raramente, trata de uma coisa ou outra. Mas só às vezes...