segunda-feira, junho 18, 2007

Não Há a Segunda Hora!

Para o jovem adolescente português existem poucos acontecimentos do calibre de não haver aulas. Do mesmo nível, e recorrendo à minha apuradíssima memória, apenas se inclui o vislumbre de uns seios desnudos (e não, a vossa mãe não conta) ou a ida de alguém para o hospital ou algo que envolva uma ambulância na escola (especialmente, lá está, se por causa disso não houver aulas a seguir).
Antigamente não havia estas mariquices das aulas de substituição e ocupação de tempos livres ou lá o que é. Não vinha mal ao mundo haver vinte ou trinta putos à solta no recreio durante uma ou duas horas. Quanto ao funcionamento das restantes aulas, tinha dias. Recordo-me perfeitamente quando deu aquele programa que tinha um senhor calvo que se agachava como se estivesse no duche da prisão, enquanto gritava “PONHA PONHA PONHA!”, havia lá um puto que imitava isso na perfeição. Era interessante, estarmos nós, numa aula, atentos às questões estruturais e conjunturais que levaram a qualquer coisa num qualquer período de história e ouvir-se, nitidamente, alguém a gritar “PONHA PONHA PONHA!”.
O motivo para não haver aulas era, sem sombra de dúvidas, pouco ou nada importante. Lembro-me também, por entre as brumas da memória, de uma vez em que não tive aulas porque, ao que parece, tinha morrido a irmã da professora. Os aplausos por não haver aulas cessaram durante três, quatro segundos. Houve um ou dois olhares mais piedosos. Mas depois um grito de “o último a chegar ao campo vai à baliza!” pôs logo toda a gente a mexer. Se há coisa que consegue desmobilizar uma multidão é o grito de “o último a chegar vai à baliza!”. Toda a gente sabe que ir à baliza é para os gordos, péssimos jogadores ou pessoas que nós temos um palpite que gostam de bolas.
Voltando ao não haver aulas, uma das vezes que mais gozo deu à minha turma não ter aulas foi quando a aula de Educação Física, mais precisamente a segunda hora, foi cancelada. A única vez que vi putos de treze anos tão contentes foi na Oprah, quando ela andou a dar ténis aos putos da África do Sul. Têm as prioridades todas trocadas, os putos. Parece que foi hoje: estávamos a correr à volta da escola, a treinar para o “corta-mato”, quando aparece um puto qualquer, todo desgrenhado, a gritar: “Parem! Parem!”. Nós parámos, afinal de contas, acho que ninguém gostava do corta-mato. Já estávamos felizes só com a parte do parar, mas quando ele diz, e passo a citar: “Não há a segunda hora! O Mamas apalpou a Ana Sofia!”, foi a loucura total. Houve festejos como se tivéssemos ganho o Mundial. Não sabia quem era o Mamas, mas naquela altura pareceu-nos um herói. Ainda bem que não tivemos a segunda hora de física. Assim pudemos ir jogar futebol.
Nesses furos deram-se grandes clássicos do futebol juvenil da última década do século passado, sem sombra de dúvidas. Aqueles embates entre o nono e o oitavo ano ficarão para a história. Porque nos anos anteriores, por sermos mais novos, tínhamos de jogar num local chamado “a cave”, que era um local mal iluminado, com um distinto cheiro a urina e onde as rameiras iam mostrar os recém nascidos pelos púbicos aos rapazes mais aventureiros. No campo grande, era uma hora do melhor futebol que nós tínhamos visto, o que, para quem no máximo catorze anos (sem contar com aqueles gajos, com alcunhas tipo Pele, que tinham no mínimo dezanove e andavam no sétimo ano) não se viu assim tanto futebol.
O que me deixa perplexo é como é que, nessas idades, fazíamos um jogo de futebol mesmo no intervalo pequeno. Eram apenas cinco minutos, mas dava para organizar duas equipas, jogar, marcar uns golitos e voltar para a sala de aula. O futebol tem a capacidade de alterar o tempo-espaço a seu belo prazer, não haja dúvidas disso.
Ligando o futebol e o não haver aulas com uma precisão e um timing a roçar a perfeição, lembro-me também de não haver aulas porque uma baliza caiu em cima de um símio qualquer que, estando à baliza (e, claro está, não sendo gordo) se decidiu pendurar nela. Caiu em cima dele, ainda por cima era daquelas de ferro, pesaditas. Também não tivemos aulas a seguir. Ficámos todos com uma enorme vontade de levar em ombros este novo herói. Claro que com as fracturas não dava jeito para ele, mas foi a vontade que tivemos.

10 comentários:

Alf disse...

Boas memórias (com tom saudosista...)

Sr. Bastonário disse...

Em Melmac também era assim?

Alf disse...

Era. Com a subtileza de, de vez em quando, se comer um gatito num intervalo.

Sr. Bastonário disse...

=) Isso tamném faz parte das boas memórias. Do tempo em que só havia dois canais. Imagino já um grupo de adolescentes histéricos a dizer: "Só dois?! Como conseguiam viver man?" Não conseguíamos. Eu tinha quinze irmãos, oito suicidaram-se por isso. Dois foi por não haver playstatios, mais dois por não haver telemóvel e um por não haver internet. (Era o geek da família...).

Anónimo disse...

lol eu acho q se suicidaram mas foi de te aturar a lamentar MI MI MIIII MiMi =D
ah btw "compraste a psp?"

Sr. Bastonário disse...

Ui, "btw", que doida, toda maluca do mIRC. Olha, 1998 ligou, eles querem o mIRC de volta.
Não se brinca com coisas sérias. Aguarda o meu próximo post.

Anónimo disse...

lolol psiu! é o regresso do mamas? do simao do papelao? do zombie? do orelhas? hmm coco no balde?lol hmm.. aguardarei concerteza!

Sr. Jurista disse...

O que quer dizer o BTW, para os leigos no vicio puro e duro do MIRC, version 1998? e já agora quem é o orelhas e o mamas?
São questões que o povo tem direito e merece ser elucidado!

Sr. Bastonário disse...

BTW = By The Way. Esta Guida é uma geek do mIRC, vai lá vai.
Quanto ao Mamas, penso que só ele sabe quem ele é, mas, Mamas, se me estás a ler, aquele abraço por teres feito com que não houvesse aula.

Anónimo disse...

psssiuuuuuuuuuuuuuuu calem.se! sp se disse btw e mta gente disse lol e eu n pus pq n queria dar erros lolol bah
vcs juntem-se =P