Devagar, Devagarinho...

Depois de mais um serão dedicado à mui gloriosa e nobre arte do chuto na redondinha, constato que o super slow motion é uma dádiva dos Deuses. Uma dádiva super lenta mas altamente definida. E é com redobrada alegria que vejo aqueles 90 minutos (95, quando o Porto está empatado) do desporto-rei, com aquelas repetições da maior qualidade. Não é todos os dias que se pode, em câmara lenta, observar um mestre na arte do ajeitamento da bandolete como Nuno Gomes, ou a já clássica rajada de ranho saída do nariz, por jogadores como Petit, à velha moda de Paulo Futre. Que saudades de Paulo Futre. Aquela finta curta, pé esquerdo colado na bola, olhos na linha e lá ia ele. Depois parava, lançava ranho pelo nariz e soltava mais uma ou duas pérolas do seu famoso vernáculo. E é aí que quero incidir com especial atenção na arte do slow motion. Um realizador, tendo uma câmara constantemente focada nos treinadores, aproveita, em algumas paragens do jogo, para mostrá-los em toda a glória do super slow motion. Agora, não sei se é fetiche dos relalizadores, mas a verdade é que sempre que ontem apresentavam repetições de José Mota, ele estava a dizer coisas como “F***-SE CA****O PÁ!” Mas em super slow motion de alta definição, o que confere um dramatismo trágico à cena, qual Ópera no São Carlos. Os lábios a moverem-se, os olhos a incendiarem-se e as palavras, essas leva-as o vento, para os ouvidos do senhor árbitro. Com a maior das certezas afirmo que José Mota dirá frases do maior interesse técnico-táctico para a sua equipa durante o jogo. Mas o realizador… Só quando o pobre treinador veicula as suas frustrações em relação ao jogo é que o realizador lhe dá o primeiro plano. Injusta, a vida do homem do leme.
E o que dizer de José Mota, um treinador que se confunde com o próprio clube que orienta, tal a harmonia entre os dois. José Mota funciona bem em Paços, o Paços só funciona com José Mota. Para quê mudar? Apesar de este tipo de união, quiçá eterna, não ser virgem no futebol luso (assim de repente lembro-me do Leiria de Mário Reis, do Boavista de Jaime Pacheco ou do Rio Ave de Carlos Brito), esta união é das mais bonitas de se ver. Aquele chapéu com publicidade na flash-interview, todo o modo como José Mota defende aquele clube, é digno de registo. E depois tem o bónus de por a rapaziada a dar uns toques na bola. Reparem no caso de Beto. Sob o comando de José Mota, Beto parecia um predestinado, a marcar golos a 40 metros da baliza. Agora no Benfica é o que se vê. E o caso inverso, Geraldo. No Benfica era um pavor, no Paços um senhor central.
Só para dizer que continuamos a quatro pontos do Porto. Até ver.